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O diploma de graduação em Medicina de Dra. Zilda está carregado de histórias. Uma delas é sobre a cirurgia de dez cãezinhos. No quarto ano do curso foi chegada a hora da temível disciplina de cirurgia. Como avaliação, o professor pediu que cada aluno encontrasse cães machucados para assim operá-los e acompanhá-los em sua recuperação.

Durante o período de faculdade de Zilda, a matriarca da família, Mãe Helena, estava residindo com seus filhos em Curitiba. Foi com o auxílio dela que Zilda cuidou dos animais, que eram recolhidos das ruas por sua mãe. Dona Helena sempre dizia: “Em casa que entra sol e boa alimentação, não entra médico”; seguindo os conselhos da mãe, Zilda criou sua ideologia profissional, começando a aplicar em seus novos pacientes, hidratando-os, dando uma boa alimentação, higienizando suas feridas, os fazendo descansar, para estarem bem no momento da cirurgia. Passada a avaliação no laboratório, cada aluno estava agora incumbido de auxiliar no processo de recuperação de seus pacientes. Zilda manteve seus cães hidratados, alimentados corretamente e higienizados, principalmente no local da cirurgia, trocando gazes e limpando os ferimentos. Resultado: os cães de Zilda se recuperaram rapidamente e nem lembravam mais àqueles animais que ela havia apresentado no início do processo avaliativo. O professor chegou a persuadi-la a entrar para o meio dos cirurgiões, porém Zilda negou o convite: “[...] melhor é cuidar para que ninguém precise ser operado. A vocação de sanitarista era a que eu tinha nas veias.”

 

Dra. Zilda Arns Neumann cursou a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O diploma da graduação – com a data de 18 de dezembro de 1959, referente à colação de grau realizada no dia anterior – é uma das peças que ajudará a contar sua história, no memorial que está sendo construído no Museu da Vida.

“Passar no vestibular de medicina exigia esforço nos estudos; eram 960 candidatos para 120 vagas. Já não havia tempo para ser catequista da paróquia e visitar as famílias da favela, o que me enchia a alma de alegria, nem de jogar vôlei, a não ser aos sábados. Estudava das 19 às 23 horas, além de ir ao colégio pela manhã e ao cursinho pré-vestibular à tarde. Estava liberada dos afazeres de casa para estudar. Entre os aprovados no vestibular, éramos 6 mulheres e 114 homens. Meu irmão Felippe perguntou-me se eu queria que ele fosse ver o resultado; então combinamos que eu teria de lavar as paredes da cozinha se tivesse passado; ao meio-dia, ele voltou, parou na minha frente e disse: 'Pegue o balde e o pano e comece a lavar as paredes'. Era o sinal do resultado. Foi uma festa.
Sentia-me constrangida no primeiro ano de Medicina no meio de tantos homens. Além disso, o curso não era exatamente o que eu esperava. Só pude encontrar felicidade ao ajudar os pacientes no hospital; não me sentia bem lidando com cadáveres, que me faziam imaginar onde estaria a alma deles; rezava por todos. Papai me dizia que se eu estivesse arrependida poderia mudar de curso, fazer outro vestibular para ser professora, mas as dificuldades foram sendo superadas, e eu, acostumando-me com a vida real, oferecia os sacrifícios a Deus, pedindo-lhe que me abençoasse na minha profissão” (Depoimento - Zilda Arns Neumann: ela criou uma rede de solidariedade que salva centenas de milhares de crianças brasileiras – Belo Horizonte, Editora Leitura, 2003).

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REFERÊNCIAS:

Pastoral da Criança. Dra Zilda: vida plena para todas as crianças. Curitiba, 2014.

Zilda Arns Neumann. Depoimentos Brasileiros. Belo Horizonte: Editora Leitura; 2003.

Otília Arns. Zilda Arns: A tragetória da médica missionária. Curitiba: Editora e Livraria do Chain; 2010.


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