Zilda era uma moça que possuía muito carisma e tato para com as pessoas. As primeiras amostras desta característica se deram enquanto era catequista. Amiga das irmãs vicentinas desde o tempo de catequese, Zilda foi por estas convidada a ser estagiária voluntária do recém-construído Hospital Nossa Senhora das Graças, no bairro Mercês. Na época, a jovem estudante de medicina não havia aprendido nem aplicar injeções, porém isso não foi motivo para recusar o convite. A oportunidade de aprendizagem era de inestimável importância.
Iniciado o estágio, Zilda foi a primeira mulher a estagiar no Hospital Nossa Senhora das Graças, sendo considerada uma ótima auxiliar. As irmãs vicentinas ofereceram à ela um apartamento para morar e alimentação em troca da colaboração no hospital. Voltava para casa somente nos finais de semana, sendo seu plantão nas sextas-feiras a noite. Zilda se comovia com os pacientes mais sofredores. Esperava os médicos e os residentes se afastarem para chegar perto da pessoa e afagá-la com suas canções, apertos de mãos e carinhos na cabeça. Muitos eram os pacientes que se alegravam ao ver Zilda.
Seu trabalho era reconhecido por todos e as irmãs e enfermeiras sempre incentivaram Tipsi a continuar sua trajetória na medicina e no hospital. Um dia a superiora, Irmã Íris, pediu à Zilda que voltasse para casa. A jovem não entendeu, não viu razão, motivos, um por quê de estar sendo convidada a se retirar do Hospital Nossa Senhora das Graças. O choque foi terrível. Chorou durante uma semana inteira. Na tentativa de reanimá-la, frei Crisóstomo, seu irmão mais velho, a convidou para trabalhar no Colégio Bom Jesus, o qual ele dirigia. Mas a vocação de Zilda a impediu.
Passados alguns dias, se lembrou do Hospital de Crianças César Pernetta e foi conversar com as irmãs do Sagrado Coração de Jesus, a fim de ver qual seria a probabilidade dela começar a estagiar ali. Com a autorização do dr. Raul Carneiro Filho, Zilda começou a estagiar cuidando das crianças no hospital.
Quarenta e dois anos se passaram e experiências na Secretária de Estado da Saúde e Bem Estar Social do Paraná e seu protagonismo na Pastoral da Criança fizeram da jovem estagiária Zilda se transformar na Dra. Zilda Arns. Estava ela participando de um Encontro Reginal da Pastoral da Criança, realizado na casa das irmãs vicentinas, quando foi chamada a conhecer a Casa das Irmãs Idosas. Chegando lá, uma grande surpresa a esperava: Irmã Íris aos 92 anos de idade. A ex-superiora do Hospital Nossa Senhora das Graças não podia deixar Zilda ir embora sem pedir perdão e explicar o motivo que a fez demitir a jovem estudante de medicina naquela época: Zilda era muito bonita e carinhosa para com todos, o medo de ver aquela promissora médica se perder em seu caminho por conta do hospital, fez Irmã Íris agir do jeito que agiu. Agora, Zilda sabia e compreendia os motivos de Irmã Íris.
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REFERÊNCIAS:
Pastoral da Criança. Dra Zilda: vida plena para todas as crianças. Curitiba, 2014.
Zilda Arns Neumann. Depoimentos Brasileiros. Belo Horizonte: Editora Leitura; 2003.
Otília Arns. Zilda Arns: A tragetória da médica missionária. Curitiba: Editora e Livraria do Chain; 2010.